Para quem se interessa pela história dos calçados, é importante observar as peculiaridades brasileiras que surgem desde o Brasil Colônia, com ênfase para o período de estada da Família Real Portuguesa no Rio de Janeiro, vinda com a invasão de Portugal por Napoleão Bonaparte. Curiosamente, o modelo de calçado feito no Brasil era, na verdade, inspirado na moda britânica.
Ao pisar as terras brasileiras, com a chegada da Missão Artística Francesa, em 1816, Jean Baptiste Debret se assustou com o número de sapatarias existentes na cidade do Rio de Janeiro e com a quantidade de operários (escravos e libertos) que trabalhavam nelas. Fato esse interessante, uma vez que cinco em cada seis habitantes andavam descalços.
|
Divulgação
Loja de Sapateiro, aquarela de J.B. Debret - Século XIX |
A explicação para esse tema reside no fato de as senhoras brasileiras usarem sapatinhos de seda, que se esgarçavam em poucos instantes ao se andar pelas ruas cariocas, que estavam sempre em péssimas condições, segundo Debret. Como a seda é um tecido muito delicado, os sapatos duravam em média dois dias, precisando constantemente de consertos, o que propiciava a manutenção das sapatarias. Pode-se dizer, assim, que a paixão das brasileiras por calçados já estava em voga no Brasil Colonial.
Contudo, esse luxo não somente alcançava à senhora do século XIX, mas também suas escravas, que, para acompanhá-la, usavam sapatos de seda. A situação atingia até mesmo as donas de casa de menores recursos. Uma alegria para os sapateiros!
Segundo o texto escrito por Debret, “o luxo do calçado é elevado ao máximo sob o céu puro do Brasil, onde as mulheres geralmente favorecidas por um lindo pé, desenvolvem, para ressaltá-lo, toda a faceirice natural aos povos do sul. As únicas cores usadas eram o branco, o rosa e o azul-céu; a partir de 1832 acrescentaram-se o verde e o amarelo, cores imperiais e usadas na Corte”.
Em 1818, chega ao Brasil a moda dos sapatos artesanais de couro envernizado. Contudo, apesar de sua maior durabilidade, esses calçados eram extremamente caros, acarretando a pouca difusão da obra pelo território. A propagação dos sapatos de couro pelo Brasil ocorre somente após a Independência.
Felizmente, hoje não precisamos consertar sapatinhos de seda. Basta cuidar bem deles...
Em breve, a história do calçado feminino no Brasil Imperial e na República Velha.
Beijo,
Alessandra Baldner
Comunicação